sábado, 8 de setembro de 2012

A história e realidade de João W. Nery - "Viagem solitária"


Todos nós nascemos com algum propósito, cada um de nós temos nossa importância em nossa relevante e significativa vida. Possuímos um corpo, um coração pulsante e um cérebro pensante que pode nos levar à epifanias, descobertas e grandes evoluções através de conhecimento, de estudo, de sabedoria e experiência.
Nascemos com o dom do pensamento, do discernimento e do livre arbítrio. Somos todos iguais e ao mesmo tempo somos tão diferentes. Temos tantos problemas e simultaneamente temos tantas soluções. Geralmente elas se encontram dentro de nós mesmos; no interior de nosso coração pulsante e nos milhões de neurônios que temos em nosso cérebro. 

Recentemente me apresentaram uma história fascinante. Uma história real. Sórdida, cruel, nua e crua. Uma realidade brasileira, uma vertente mundial. Estou falando de João W. Nery que é considerado o primeiro "transhomem" de nosso país; ou seja... nasceu uma mulher mas em seu verdadeiro interior se encontrava um homem. Brilhantemente inteligente, guerreiro e determinado. Esse é o resumo de uma vida cheia de histórias, memórias e que são compartilhadas em seu livro: "Viagem Solitária - Memórias de um transexual 30 anos depois". Assim que ouvi falar dele, me interessei por sua biografia e por sua obra, uma vida fascinante e inspiradora! O grande paradoxo da vida: Ser feliz, ser quem realmente és, buscar a própria essência.

Hoje em dia tenho seu perfil adicionado no Facebook e acompanho suas atualizações e hoje recebi um texto  genial de sua autoria. Na verdade foi uma matéria escrita exclusivamente para a Revista Trip, mas que infelizmente não foi publicada, segundo eles, por falta de espaço. A questão é que realmente falta espaço! Falta voz! Falta democracia, respeito, igualdade, amor ao próximo! Falta muita coisa! Falta nos darem espaço para que possamos levantar nossas bandeiras em busca de nossos direitos, fazem de tudo para nos calarem, fazem de tudo para nos derrubarem, nos humilharem, nos desrespeitarem. A mídia não nos dá muito crédito, não nos dá tanta oportunidade assim de mostrar quem somos e o quanto podemos agregar ao mundo e a nossa sociedade. A grande maioria não conhece o significado da palavra "respeito" e nos tratam como estereótipo, como aberração, como doença ou desvio de comportamento. A religião também influencia no preconceito, na discriminação e no julgamento alheio. 

Quem eles pensam que são? Porquê se sentem no direito de julgar o comportamento de um outro ser humano? Pregam tanto sobre amor ao próximo e fraternidade mas se esquecem de viver de acordo esses ensinamentos, se esquecem de aplicá-los na realidade que os cerca, traindo todos esses ensinamentos disseminando o ódio, a intolerância e a violência; que muitas vezes começam dentro de casa mesmo! Não é necessário ir muito longe para encontrar um exemplo de tudo isso que eu mencionei. Nossa sociedade vive de falso moralismo, de hipocrisia e ignorância. Ignorância emocional que corrói almas e que magoa os sentimentos de cada ser humano que se sente deslocado e ignorado. E por isso todos nós devemos erguer nossas cabeças e gritar o mais alto que pudermos em prol de nossa liberdade, devemos ser quem realmente somos. Partindo do pressuposto é exatamente toda essa filosofia e conceito de vida que João W. Nery se aplica. Gostaria que vocês lessem a matéria já mencionada, prestem atenção e vejam o nível intelectual em que ele se encontra e captem sua realidade:

"Não é o pênis que faz um homem"
Por João W. Nery

"Sou considerado o primeiro transhomem a ser operado no Brasil em 1977, em plena ditadura, quando as cirurgias ainda não eram legalizadas e gratuitas como são hoje pelo SUS. Hoje estou com 62 anos. Tenho um filho não biológico, que criei desde que foi fecundado. Ele tem 25 anos e é engenheiro. Fui psicólogo, sexólogo, professor universitário e tive um consultório. Após a cirurgia, aos 27 anos, tive que tirar uma nova identidade – desta vez masculina - para me articular socialmente e poder trabalhar. Com isso, perdi meu currículo escolar, incluindo o diploma de psicólogo, e aos olhos da lei me tornei um analfabeto, tendo que batalhar como pedreiro, vendedor e motorista de táxi.

Embora tenha nascido num corpo de mulher, desde os quatro anos me identifiquei com o gênero masculino. A primeira cirurgia que fiz foi a retirada das mamas que elimina a necessidade de usar faixas para escondê-las. Pode-se assim vestir camisas colantes e ir à praia. A segunda foi a histerectomia (retirada do útero e ovários), que faz cessar a menstruação e a produção do estrogênio, o hormônio feminino. Para obter os caracteres sexuais secundários (barba, voz grossa, músculos e pelos), tomei testosterona. A neofaloplastia (feitura do pênis) eu não fiz, pois é considerada pela Organização Mundial da Saúde uma cirurgia experimental. Há técnicas mais modernas como a metoidioplastia, que consiste na soltura do clitóris (já aumentado pelos hormônios e com uso de bombas especiais), transformando-o num pênis pequeno, mas sem perder a sensibilidade.
Sou hétero, mas poderia ser homo, bi ou assexuado, como qualquer outra pessoa, pois a orientação sexual se relaciona com o desejo e a afetividade de cada um, independentemente de seu corpo. No caso dos transexuais e travestis, a identidade de gênero não corresponde ao corpo com que a pessoa nasceu. Como a nossa sociedade encara este estado como patológico, somos quase “obrigados” a nos operar, para nos fazermos inteligíveis como ser humano. 

FORA DA CAIXINHA:
A nossa cultura infelizmente só concebe o binarismo homem x mulher. Os pais, quando detectam o sexo do bebê, já escolhem o nome e o gênero que este deverá seguir: os brinquedos (boneca para as meninas e carrinho para os meninos), a cor das roupas e como deverá se comportar. Todos já nascem “cirurgiados”. Se sair da caixinha será considerado doente, marginal ou invisível, sofrendo o estigma, a vergonha e a discriminação.
O gênero é uma invenção social, que muda com a cultura e o tempo. O corpo é plástico, podemos tatuá-lo, colocar piercings, próteses e hormonizá-lo para ficar segundo a nossa autoimagem. Não é na genitália que está a definição do nosso gênero. Assim como Simone de Beauvoir já afirmava em 1949 que “ninguém nasce mulher, torna-se”, a máxima também é válida para os homens. Há aqueles que perdem o pênis por acidente ou necrose e nem por isso deixam de ser homens, embora a nossa cultura seja falocêntrica, dando poder e autoridade ao pênis. O filme A pele que habito, de Pedro Almodóvar, retrata a história de um homem forçado a fazer cirurgia. Transformam-no em mulher, com vagina e aparência feminina, mas ele continua com identidade masculina. Portanto, também não é uma vagina que faz uma mulher.
É necessário repensarmos essa heteronormatividade fundamentada no modelo de família heterossexual, que elimina outros núcleos familiares como os casais formados por duas mulheres ou dois homens. Essa visão obriga-nos a ter uma heterossexualidade compulsória, ou seja, só se pode amar e ter relações sexuais com o sexo oposto. São formas de poder que perpassam espaços domésticos, políticas públicas e instituições que nos vigiam e nos controlam. Nossa sociedade continua calada diante dos homicídios diários, com requintes de crueldade, cometidos em nome dessas normas. Nenhuma lei foi aprovada até agora para punir atitudes homofóbicas e transfóbicas. Mais do que lutar por ter direitos iguais é fundamental ter iguais direitos sendo diferente".

JOÃO W. NERY é escritor, autor dos livros Viagem solitária – memórias de um transexual 30 anos depois (Editora Leya) e Erro de pessoa – Joana ou João (Editora Record).

P.S: Sinceramente, eu ainda não tive a honra de ler o livro. Mas providenciarei o mais rápido possível porque eu tenho certeza de que agregará muito a minha vida. Se algum leitor já conhece o João e o seu trabalho, já leu o livro, não deixe de comentar! Aqui estão as informações pessoais e contato dele:

Fã Page Oficial do Livro:

Venda Online do Livro: 
http://migre.me/aD2tm 

Blog oficial do autor:

Twitter: 

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